Capa Danz: Tatah Fávero

 

Foto/Reprodução: Danz

Tatah Fávero ou Thaynná, como foi chamada assim que nasceu, é a entrevistada da semana e bateu um papo muito emocionante, sincero, divertido, bem sensível e revelador também, já que ela aproveitou para contar novidades que nós amamos saber!

Nesta conversa, falamos sobre a Thaynná mulher, sobre a Thaynná mãe do Dom, sobre a Thaynná esposa do Victor, vocalista da banda Onze:20, sobre a Thaynná filha da Sueli e, também, da Tatah, uma influenciadora que é sinônimo de inspiração para muitas mulheres.

Falamos sobre a influência da moda em sua vida, que começou desde cedo, em casa mesmo, sobre suas inspirações na moda e, aqui, vai um spoiler: Ashley Graham, você foi mencionada! Aqui, ela defende que as roupas que vestimos, e a moda como um todo, “deve ser um complemento da nossa personalidade e não uma ferramenta de busca dela”.

Também falamos sobre o Dom, seu pequeno grande filho, de apenas 4 anos, que já ensinou tantas coisas para essa família e tantas outras por aí. Dom é portador da Trissomia 21, também conhecida como Síndrome de Down, Mesmo em uma sociedade tão preconceituosa, Dom cresce com a certeza de que, a começar dentro de casa, nada relacionado à sua condição é fator capaz de mudar sua essência, sua verdade, sua personalidade, que já é tão forte, e nem o tamanho de seu coração. Seu melhor amigo, o cachorrinho Bob Marley, também foi tema da conversa.

Por fim, Tatah falou sobre sua rede de apoio, sobre a decisão de contar com uma babá após 4 anos e meio, sobre as composições que fez com Vitin e que, em breve, serão lançadas e sobre como enxerga a força que sua voz tem, principalmente após o nascimento do seu filho.

Vem conferir, a gente garante que está incrível. Ou melhor…
Tah Babado!

1. Você é uma mulher extremamente estilosa e parece que a moda influencia sua vida e seu estilo. Você acredita que ela pode ser uma forma de expressão e empoderamento?

Cresci em meio a máquinas de costuras, linhas, agulhas. Sabia, e ainda sei, costurar as roupas das minhas bonecas e colocar fio em máquina. Entendo de cortes, modelagens e qual tecido é bom ou ruim. Devo isso à minha mãe que, além de professora, é costureira. Sempre treinei meu olhar para ver como ela poderia fazer os looks da moda pra mim, mas eu também era mestre em economizar. Ia nas lojas mais simples e saía com looks estilosos. Isso fazia sucesso entre minhas amigas e meu guarda-roupa era sempre requisitado. Em paralelo a isso, participei de muitos concursos do mundo “miss” e desfilava por Juiz de Fora. Não ganhei nenhum, no máximo um segundo lugar, mas amava esse universo, tanto que tenho três cursos profissionalizantes de manequim e passarela e já tive minha própria turma de modelos.

Com o passar dos anos, me dediquei aos estudos, formei em Direito… Mas, mesmo nessa época, minhas escolhas no look do estágio e da faculdade também chamavam atenção. Para ajudar no pagamento da formatura e do cursinho da OAB, montei uma loja online de acessórios, chamada Closet Dona Onça. Virei sacoleira e ia à São Paulo garimpar as melhores oportunidades para revender na internet. Foi sucesso e, quando vi, estava pedindo demissão do escritório de advocacia para me dedicar às vendas. Pelo meu histórico de blogueira, eu tinha noção de redes sociais e, por ter aprendido com a minha mão, eu tinha noção da qualidade dos produtos, além de também ter certo direcionamento com vendas. Fui minha própria modelo e influenciadora, a marca bombou, vendia super bem e isso me abriu portas para que procurassem para divulgá-las também.

Em poucos meses, fechei a minha loja para me dedicar aos conteúdos, eventos, campanhas, fotos e, acredite, desfiles. Mesmo tendo o corpo considerado “fora do padrão” por tantos anos pelas agências, concursos e marcas, agora minha comunicação estava abrindo novas portas pra mim: as marcas queriam a Tatah Fávero, independentemente do tamanho do meu jeans. Isso foi sensacional! Ao mesmo tempo, o mercado de moda plus size começava a caminhar em passos maiores em direção a uma moda mais inclusiva, democrática e que abraçasse mais corpos. Essa foi a minha grande deixa para entender que, muito além de divulgar marcas e mostrar meus looks, eu agora estava inspirando mulheres a se olhar com amor e buscar roupas pensadas para seus corpos, mulheres que aprenderam com a moda que o amor que merecem aceitar de seus parceiros, da família, da sociedade como um todo, elas também precisam aceitar quando se olham no espelho, quando se escutam, quando sentem.

Autoestima não tem a ver só com a aparência e, por mais que a moda seja algo visível, ela nos inspira a encarar medos e crenças invisíveis, bem como exaltar nossas virtudes e estilos únicos que talvez passariam imperceptíveis. Isso é o que mais me motiva”.

2. Quais são suas maiores fontes de inspiração na moda? Quais são os estilos e tendências que mais te encantam atualmente?

Todo mundo que passa na rua feliz com o que está usando, me inspira. Independente do gênero, cor ou tamanho, a gente vê uma pessoa estilosa de longe. E quando eu vejo alguém se sentindo bem com algo inusitado ou não necessariamente “da moda”, eu me inspiro a usar o que me faz bem também. Por exemplo, eu amo coisas com franjas. Decidi que voltaria a usar bolsa de franjas, mesmo sabendo que não era tendência já fazia um tempinho. Procurei no “Repassa”, que é um brechó online onde tenho minha lojinha de desapegos e que parte da venda é revertida para a APAE de Salvador. Ali, encontrei a bolsa de franjas, comprei, uso muito e sempre me perguntam onde encontrar uma igual.

Acho que moda é isso: é saber que vai ter quem se identifique, quem torça o nariz, mas se eu gosto do que vejo em mim, tá maravilhoso. Comprei minha primeira Louis Vuitton original também de um brechó, da minha amiga Michelle Assis, que se chama “Hey Use Moda Circular”. Ela fala muito a frase “menos tendência, mais essência” e eu acho isso sensacional! Fico muito feliz de ver como a moda plus size vem ganhando força a nível mundial e isso reflete demais aqui no Brasil. Sorte nossa!

A modelo Ashley Graham virou minha musa inspiradora no exato momento que eu a vi pela primeira vez e entendi que existia beleza e um mundo possível na alta costura, mesmo tendo um corpo cheio de curvas. Depois de tantos “nãos”, dicas de dieta e faixas de segundo lugar, ver uma mulher como ela nas maiores passarelas do mundo encheu meu coração de esperança. A Ashley me deu esse start e eu amo o jeitinho brincalhão dela, sempre com fotos incríveis e muita vida real também. Hoje em dia ela é mãe de 3 meninos e, mesmo assim, continua lindamente sua carreira de modelo internacional, comparece aos maiores e melhores eventos de moda, arte, cinema e ainda foi considerada a mulher mais sexy do mundo. É muita inspiração para uma mulher só!

Eu me derreto de amores e, sempre que penso em desistir ou acabo desanimando de ir em algum evento em virtude da maternidade, penso sobre o que a Ashley faria numa situação dessas. Com certeza, ela escolheria brilhar, mas com a condição de depois voltar para casa para curtir o maridão e as crias. Eu me vejo nisso, honro e me inspiro demais nisso.

A moda, assim como sempre acreditei, já não é mais reduzida apenas à roupa, às medidas e ao sofrimento. A moda agora é atrelada, principalmente, a atitude e a mensagem a ser passada. Estilo tem a ver com postura, com olhar, com sorriso. O que vestimos deve ser um complemento da nossa personalidade e não uma ferramenta de busca dela.

3. Conte-nos um pouco sobre o papel da moda na vida do Dom. Como você adapta o estilo e as roupas dele às suas necessidades e preferências?
 – O Dominic é aquela criança que, por onde passa alguém fala “que criança estilosa” e isso é muito dele, nasceu com ele. A gente observa isso até naqueles momentos que ele está só de body e short, descalço e, só de andar, o estilo tá ali. Para ajudar, ele agora gosta de escolher as roupas que vai usar e ama um tênis novo! Quando não quer usar alguma peça de roupa, não adianta insistir que não vai! Cheio das vontades e do seu estilo próprio, então, respeitamos demais suas escolhas.

Também fazemos questão de que ele tenha roupas de todas as cores. Quando ele sai com alguma peça rosa, é sempre algo novo: tem quem ache o máximo, tem quem fale que a gente é evoluído, uns falam que é desnecessário e só queremos aparecer… Mas seguimos na missão de mostrar que rosa é só uma cor, arco-íris e unicórnios também são legais, personagens meninas e princesas também… Tá tudo bem gostar de brinquedos “de menina”, de roupas “de menina”. Tá tudo bem gostar de coisas, roupas, brinquedos. Acho que a moda tem a ver com isso, liberdade, escolha, autenticidade.

Priorizar o conforto é fundamental. Não saio de casa se eu notar que o Dom está com uma roupa que vai o impossibilitar de brincar, de correr. Roupa acaba sujando, roupa rasga, roupa é pra ajudar e não atrapalhar! Roupa de criança, pra mim, tem que esticar, não incomodar, tem que permitir que a criança seja quem ela é! Inevitavelmente, vamos crescer e aprender o que é consumismo, pressão estética, cultura da dieta e como a moda pode nos fazer “sofrer” em busca de uma beleza inalcançável, por isso, acho inadmissível que ele saia com roupas de tecido que esquenta, agarra, limita.

Gostamos de cores, de elásticos, de malhas, de algodão! Gostamos de estampas, gostamos do bom e velho pretinho básico também, que além de estiloso, é ótimo contra manchas. Jeans? Só se for confortável, larguinho e/ou com lycra. O Dom teve uma calça de unicórnios que fazia o maior sucesso! Por onde íamos, perguntavam de onde era e, quando eu falava que tinha comprado na seção de meninas da loja, nem todo mundo gostava, sabe? Não era nem uma saia, e tudo bem também se fosse, é só uma saia, mas, naquele caso, era uma calça super confortável, colorida e incrível! Mas ao saber que era “de menina”, não gostavam mais, achavam ousado e desnecessário. Nessas horas eu vejo o quanto o preconceito limita a moda. As pessoas deixam de usar coisas que adoram com medo do julgamento alheio (ou seria o próprio julgamento?), deixam de usar coisas confortáveis por causa da cor, deixam de comprar calças maiores por causa da numeração, deixam de entrar em brechós por vergonha. Mas devemos nos lembrar que a moda é cíclica, única, e acredito que as peças estão no mundo para serem usadas e reinventadas. Gostamos de criar o Dom sem esses medos na hora de se vestir e o resultado é uma criança incrivelmente estilosa, linda e feliz.

4. Você se tornou mãe bem jovem e de uma criança com síndrome de down. Quais são os desafios e as recompensas dessa jornada?

– Confesso que, às vezes, me pergunto como é a experiência de ser mãe de uma criança que não tem deficiência porque, de verdade, tenho muita curiosidade! Isso não acontece porque eu “queira trocar de papel com ela”, mas sim porque eu gostaria de entender um pouco como é viver um dia sem esse medo do preconceito, medo do irreconhecível, do invisível, do futuro. Todas as mães que eu converso, falam que também sentem muito medo. Medo da violência, de dengue, de bala perdida, de acidente de carro. Medo dos perigos do mundo, medo de tempestade, de raio, de mar bravo. Eu não sei o que é ser mãe de uma criança típica, mas sei o que é ser mãe, conheço mães maravilhosas e posso afirmar que todas que conheci amava seu filho mais que tudo no mundo. Então, entendo que a parte visceral é algo que abrange todas as mães, já entendi que não é um privilégio das mães atípicas. Mas quando começamos a analisar as dificuldades e o ciclo natural da vida, uma hora nossos caminhos começam a se distanciar. Uma mãe típica naturalmente cria seu filho para que ele cresça e conquiste sua independência e autonomia, é o natural, o famoso “criar pro mundo”. A mãe atípica também faz isso, mas percebi que quando analiso a sociedade como um todo, vejo o quanto ainda temos a evoluir em questões básicas como educação, saúde, respeito, inclusão, anticapacitismo e, dessa maneira, o medo de ver meu filho criar asas, inevitavelmente, bate um pouco mais forte.

Quando vemos notícias de abusos e maus tratos em escolas ou clínicas contra nossos filhos que muitas vezes ainda nem podem falar para se defender, aí entendo onde está a minha diferença para as mães típicas. Quando eu chego na escola do meu filho e converso com colegas da sala dele sobre assuntos corriqueiros, eu ainda sonho em ouvir um “te amo, mamãe”. É aí que eu vejo que a realidade é distante e, com o passar dos anos, aumentará. Haja terapia para eu entender até onde é uma preocupação natural de trissomia e até onde é apenas um capricho meu de mãe que não quer desgrudar da cria.

Quando meu filho nasceu com uma condição genética imutável, ele me convidou a me enxergar enquanto mulher e mãe e observar o que era mutável em mim e a nossa volta para que eu me adaptasse à nova rotina, para mim e para ele. Os nossos dias, em sua maioria, são leves e tranquilos. Dominic tem uma rotina de terapias que estamos sempre complementando na medida do possível e de acordo com sua disposição e indicações médicas. Essa é uma parte chata da rotina, uma série de terapias e compromissos de saúde que pais de crianças típicas nunca passaram nem perto. Terapia ABBA, ecocardiograma, exame “Bera” com sedação. Eu queria nem precisar saber o que é isso, mas eu sei, é preciso. E que bom que eu posso oferecer isso a ele! Com muito trabalho, luta, briga com planos de saúde… Mas ainda podemos lutar.

Quando eu vejo que o acesso a essas terapias de qualidade, escolas inclusivas e direitos básicos são negados a crianças com deficiência todos os dias, fico fora de mim e querendo mudar o mundo, mas aí lembro que tenho um pequeno que precisa de mim hoje e agora, então tento, com a minha comunicação, fazer esse trabalho de acolhimento de mães e redireciono elas para clínicas, médicos, terapeutas, advogados. O mais legal é que elas também se tornam minha rede de apoio, estão ali pra me dar um abraço virtual quando preciso de ajuda, pois faço questão de deixar claro que a jornada não é fácil para ninguém e, para alguns, é ainda pior. Então, o que pudermos fazer para levar um pouco de conforto e diversão para as famílias, faremos.

A recompensa é essa: me sinto uma pessoa mais aberta aos problemas reais do mundo, problemas mutáveis para condições imutáveis. Assim, vamos aos poucos, ocupando espaços e levando amor, música e sorrisos! Acreditamos no amor, na compreensão e na educação positiva enquanto forma de estímulo, abraço e preparo de uma sociedade inclusiva e compreensiva com as diferenças do próximo.

5. Constantemente, você incentiva a inclusão e a conscientização sobre a síndrome de down através de suas redes sociais. Quais são as mensagens que você procura transmitir para seus seguidores?

– Quando se trata de Pessoas com Deficiência, existir já é um ato político. Após o nascimento do Dominic, tive um momento de dúvida sobre continuar a compartilhar nossa vida na internet ou dar um tempo e ficar offline me dedicando à maternidade. As duas escolhas são louváveis e maravilhosas, mas eu, Tatah, entendi que parar de compartilhar minha rotina seria um ato de exclusão, medo meu do julgamento alheio e do que enfrentaremos, do que pensariam. Como mãe, me senti no direito e na missão de continuar compartilhando nossa rotina, agora com um cromossomo a mais.

Então, decidi que incluiria meu filho em tudo o que tivesse a ver comigo, minha rotina, algumas viagens, quando possível, e as redes sociais fazem parte disso, da minha vida. Não é algo que eu use da imagem dele para ganhar likes. Na verdade, ao compartilhar a existência e nossa rotina com seus altos e baixos, nós mostramos às outras famílias atípicas que, mesmo que tenhamos desafios diferentes, estamos juntos. Ao contar nossos perrengues e momentos de celebração, a gente conscientiza as famílias não atípicas sobre como educar seus filhos para uma sociedade mais igualitária e menos preconceituosa.

As Pessoas Com Deficiência existem, são muitas, e precisam ocupar cada vez mais lugares, eventos, shows, empregos, campanhas publicitárias, ruas, elevadores, calçadas, outdoor e onde mais quiserem! Um diagnóstico não é uma sentença e, por mais que no momento da notícia a gente possa se assustar com a chegada do inesperado, o tempo traz entendimento, a fé nos dá força, a medicina e os estudos científicos nos dão esperança e um caminho a trilhar, e o amor nos dá a certeza de que as coisas acontecem exatamente como devem ser.

6. O cachorrinho da família contribui para o desenvolvimento e a criação do Dom? Quais são os benefícios dessa interação?

– Ah, uma delícia falar sobre o Bob. Estávamos em busca de uma companhia para o Dom e, como não penso em engravidar por agora, sabemos que irmão estava fora de cogitação. O Bob Marley, nosso bulldog francês carioca, tem a mesma vibe do rei Bob: é muito tranquilo, companheiro e ama música. Ele faz nosso filho correr mais, brincar mais, sorrir mais e o Dom já me ajuda quando acaba água ou comida pegando o potinho do Bob pra avisar. A própria pediatra dele já tinha nos indicado arrumar um bichinho que ajudasse a estimular sua criatividade, então confiamos.

No início, o Dom sentiu um pouco de ciúmes misturado com curiosidade, mas sei que até esse sentimento é saudável e legítimo de sentir, então aproveitamos como oportunidade de conversar sobre questões importantes como cuidado, natureza, respeito aos animais, e até carinho, paciência e zelo. Hoje eles são super amigos, algumas vezes até dormem juntos e se divertem muito. Os passeios na orla, que antes já eram frequentes, agora são diários, 2 ou até 3 vezes ao dia. O Bob chama, o Dom chama, a gente chama eles, e estamos muito mais ativos e vivendo as redondezas da nossa casa aqui do Rio.

Nós somos de Minas Gerais e nos mudamos para o Rio de Janeiro há 1 ano e meio, mas a rotina facilmente nos engole: trabalhos, shows, terapias, telas. Ter algo que nos traz para o mundo offline é maravilhoso. O Bob mudou o funcionamento da casa. Dá trabalhinho, sim, tem que cuidar, tem que acompanhar com veterinário, tem pelos pela casa… Mas, com certeza, temos muito mais amor e alegria nos nossos dias!

7. Influenciadora, mãe e esposa de um cantor famoso. Como você concilia isso tudo? Quais são os principais desafios de vivenciar esses diferentes papéis?

– Na busca pelo autoconhecimento depois do diagnóstico do Dom e de toda a avalanche de sentimentos que isso me trouxe, entendi que passar por tudo sozinha não seria viável. Tenho meu parceiro, minha família, mas uma rede de apoio profissional também foi muito necessária para que eu colocasse minha cabeça no lugar e entendesse que, por mais que eu estivesse perdida, também tinha uma responsabilidade em mãos e era tarefa minha entender a melhor maneira de ser alguém mais preparada para meu filho.

Fui ao psiquiatra, comecei acompanhamento com a psicóloga, e chegamos ao diagnóstico do TDAH. Isso mudou tudo na minha vida: entendi que, por mais que eu queira, minha performance e rendimento não vai ser igual ao de uma pessoa que não vive essa condição. A não ser que meu hiperfoco esteja ativado… aí eu faço acontecer, mas não é algo que acontece todos os dias e tá tudo bem. O Victor também tem TDAH. Ou seja, somos dois adultos com TDAH cuidando de uma criança com Trissomia 21. Outra chave que virou é que, com TDAH ou não, sou humana, não sou a Mulher Maravilha e nem quero, e preciso ter momentos de descanso e momentos em que eu possa deixar minha maternidade em algum outro plano, nem que seja por algumas horas. Hoje sei que em alguns (muitos) momentos eu vou falhar tentando acertar ou vou precisar me ausentar e isso não me faz “menos” mãe ou significa que eu o ame menos. A vida é o que é e eu decidi aprender com isso, quero ser mãe atípica, sim, mas também quero trabalhar, quero viver!

Trabalhar é algo que eu amo e, por mais que seja controverso, me relaxa, mesmo que minha psicóloga discorde disso. Mas mais do que isso: comunicar é minha paixão desde quando criei meu primeiro blog, aos 12 anos de idade. Comunico sobre moda, beleza, viagens, sentimentos, relacionamentos, e quando cresci e virei mãe, isso apenas acompanhou uma rotina de posts que já fazia parte da minha vida por muitos anos. A maternidade atípica trouxe um propósito ainda maior para a minha comunicação ativa: me tornei ativista de causas anticapacitistas de uma maneira que visa aproximar e não excluir, informar e não lacrar, educar e não militar. É natural, é do meu jeitinho, mas é um trabalho árduo diário. Um trabalho profissional, pois as redes sociais são minha fonte de renda desde antes de engravidar; Um trabalho social, no âmbito do compromisso que assumo em defender e lutar pelo direito das Pessoas com Deficiência e suas famílias; Um trabalho emocional, pois preciso sentir os dois lados da moeda para saber acolher, preciso estar bem para mim, para meu filho, meu marido, minhas seguidoras e para todo um movimento que criamos juntos, um movimento que nem tem nome, mas é antirracista, anti apacitista, antigordofóbico e anti qualquer tipo de opressão e preconceito.

Para sobreviver a isso, só mesmo com muita saúde mental, fé e arte. Nossa fé é nosso jogo de cintura, nossa arte nos salva. A arte do Victor, música. A minha, a escrita. A nossa paixão, juntos, é viajar pelo mundo, conhecer cantinhos, pessoas simples e do bem. Juntamos tudo isso e de tanta poesia, tanta viagem e tanta composição, nos rendemos às músicas juntos. Uma delas já até foi lançada pela banda Onze:20, chama “Cancun” e escrevemos quando estivemos lá no México. A gente se diverte junto, enquanto casal, parceiros, amigos, e ignorar isso depois do diagnóstico do nosso filho foi completamente impensável: nosso amor e admiração mútuas são nossa força diária, e ele sente isso. Eu amo que nosso ócio também é criativo, mas também amo os momentos de descanso, e embora raros, eles também são necessários para continuar fazendo a diferença dentro de casa e levando nossa voz a tantos outros lugares.

– Hoje em dia, depois de 4 anos e meio, decidimos ter uma babá fixa que já é super amiga do Dom e está colaborando demais para o funcionamento da casa e de nossos projetos. Não foi fácil encontrar alguém que tivesse feat com nossa rotina e horários, mas agora encontramos e estamos muito felizes. Aceitar rede de apoio, ajuda, cuidados, faz parte dessa permissão do descanso e, embora ainda seja um desafio, estou em busca de me livrar cada vez mais das amarras da culpa materna e me permitir viver mais momentos sozinha, namorando, com amigos, com a família. Em breve te conto se eu consegui! (risos)

8. Quais são seus planos e projetos futuros, tanto relacionados à sua carreira como influenciadora quanto à sua família? O que podemos esperar de você nos próximos anos?

– Que pergunta maravilhosa, perfeita para encerrar essa entrevista que foi incrível!

Estou escrevendo um livro sobre maternidade atípica que pretendemos lançar antes do dia 21 de março de 2024, já que nessa data é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Além disso, o Vitin também vai lançar um disco solo, em paralelo ao *Onze:20*, onde ele mistura o reggae com samba. Temos algumas composições juntos nesse disco, e essa é uma outra novidade: Vitin está trabalhando nesse novo projeto com muito amor, mais do que já trabalha, pois são músicas especiais para ele e queremos compartilhar com todos em breve, então, até o fim do ano estarão em todas as plataformas digitais.

Eu amo contar nossas histórias, nosso passado, mas também adoro falar sobre o futuro, o presente, o que tá rolando, ou o famoso “Tah Babado”. Agora que já estamos completamente adaptados ao Rio, à rede de apoio, às terapias e à escola, eu e Victor retornamos às nossas viagens e trabalhos em dupla, e com isso muita coisa vem acontecendo. Vamos retomar nosso podcast, o “Pod Tah Viajando”, e a outra novidade é que, dessa vez, teremos convidados especiais e muita música boa. O podcast vai ser em formato de vídeo no Youtube, além do Spotify para quem preferir só o áudio. O convite que eu deixo é? e ai, Tah Viajando? Vem viajar com a gente!

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts

This will close in 20 seconds