Capa Danz: Renata Spallicci

Renata Spallicci é a personificação do que chamamos de “Business Woman”: além de empresária, ela ainda é escritora, palestrante, mentora, influenciadora digital e, sua função mais recente, apresentadora. 

Vice-presidente executiva da Apsen Farmacêutica, ela começou sua carreira no almoxarifado da empresa e, depois, foi estagiária, indo contra tudo que esperavam da herdeira. Foi seu suor e dedicação que a fizeram estudar, mergulhar fundo nos assuntos da empresa e, aos poucos, conquistar o lugar que era seu por direito. Não por ser neta do fundador, mas sim por ter se esforçado para estar sentada na cadeira de VP.

Em uma entrevista exclusiva e reveladora, Renata falou sobre as dificuldades que enfrentou na carreira, sobre suas responsabilidades e desafios diários, sobre a “Nação Azul”, que é como a equipe Apsen é chamada, sobre seus planos para o futuro e sobre o amor que sente pelo que faz diariamente.

Também conversamos sobre sua vida fora da sala da vice-presidente, que é quando ela consegue tirar momentos para cuidar de si mesma e já deixou claro: não abre mão do treino! “Faz bem para o corpo e para a mente”, ela diz.

Durante a conversa com a Revista Danz, ela também refletiu sobre a importância da presença da mulher em ambientes corporativos, os obstáculos que elas ainda enfrentam e, como uma boa líder, deu dicas para quem deseja seguir o mesmo caminho que ela: de muito trabalho e dedicação, mas também de muito sucesso!

Confira, na íntegra, o bate papo com a Re!

1. A Apsen é uma das maiores Farmacêuticas do Brasil. Como você conseguiu chegar ao cargo de vice-presidente executiva?

A Apsen é uma indústria familiar que foi fundada pelos meus avós e é presidida por meu pai, mas nem por isso minha trajetória foi, assim, tão fácil. Comecei a atuar na empresa quando ainda estava cursando a faculdade de engenharia química. Logo no meu primeiro dia de trabalho, coloquei meu scarpin salto sete, terninho e fui com a expectativa de ter uma sala com meu nome na porta. Ao chegar, meu pai me mandou trabalhar no almoxarifado, então, passei os primeiros meses carregando caixas de lá para cá.

Foi a melhor coisa que ele fez por mim, porque me ajudou a entender a necessidade de conquistar meu espaço e, desde então, foi isso que passei a fazer. Ainda como estagiária, passei por todas as áreas, até que, por uma necessidade da empresa, em determinado momento, me fixei na área financeira, já que me coloquei à disposição para ajudar a resolver a crise financeira que estava acontecendo na época. Fui me especializar no tema e, junto ao meu pai, conseguimos sair da crise ainda mais fortes. Assim, aprendi que o importante é estar onde a Apsen precisa de mim, razão pela qual fui estudando e me especializando, a fim de sempre estar pronta para encarar os desafios que me são postos. Fiz MBA para CEOs, muitos cursos e mentorias. Foi dessa maneira que me especializei para assumir a vice-presidência.

2. Como você enxerga a importância da liderança feminina no segmento farmacêutico e, em geral, no mundo corporativo?

Como mulher e executiva, tenho a convicção de que somos essenciais em todos os segmentos e acredito, verdadeiramente, que a mudança para um futuro mais igualitário é totalmente possível. Tenho orgulho de fazer parte de uma indústria que desafia constantemente as fronteiras da ciência e da inovação. Se podemos alcançar avanços científicos notáveis, certamente é possível criar um ambiente corporativo onde o talento e a capacidade não tenham barreiras de gênero. Essa é uma das minhas principais bandeiras e lutas diárias!

3. Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres que buscam cargos de liderança e como você os superou?

Os desafios são muitos: desde o preconceito até a desigualdade nas oportunidades, passando pela dupla jornada, o tempo excessivo que as mulheres gastam em relação aos homens nos cuidados com a família e o lar, o que lhes tira tempo para aprimoramento profissional e networking. Enfim, acredito que mais do que listarmos os desafios, que a meu ver, já são bem conhecidos e sentidos por todos, ou pensarmos em histórias como a minha, que são casos isolados, temos que pensar em perspectiva de futuro.

Para isso, em primeiro lugar, creio ser fundamental que as empresas abandonem estereótipos de gênero arraigados e busquem medidas que fomentem o desenvolvimento profissional das mulheres. Iniciativas como mentoria e programas de capacitação específicos podem ajudar a reduzir a lacuna de habilidades, além de proporcionar às mulheres as ferramentas necessárias para alavancar suas carreiras. A promoção de ambientes de trabalho flexíveis também é crucial, permitindo que elas conciliem suas responsabilidades profissionais com a vida pessoal. Também é interessante considerar a implementação de cotas que, embora controversa, pode ser um passo importante para acelerar a inclusão de mulheres na liderança. No entanto, é fundamental que as cotas sejam acompanhadas por ações de desenvolvimento contínuo, para evitar que se tornem apenas uma medida superficial.

E mais do que isso! Acredito que a mudança nas empresas não deve ser apenas interna. A intervenção regulatória pode desempenhar um papel significativo na promoção da equidade de gênero. É preciso incentivar políticas governamentais que favoreçam a diversidade e penalizem a discriminação de gênero. As empresas devem ser responsabilizadas por seus esforços (ou pela falta deles) na promoção da igualdade de oportunidades.

Olhando para o futuro, acredito que nós, mulheres, devemos continuar a nos capacitar e a nos apoiar mutuamente. A sororidade, a troca de experiências e o incentivo mútuo são componentes vitais para superar os desafios que ainda enfrentamos. E acrescento: é importante que nós possamos ocupar espaços de visibilidade e influência, para continuarmos quebrando paradigmas e servindo de inspiração para as próximas gerações.

4. Na sua visão, quais são as principais habilidades e competências essenciais para ser bem-sucedida no mundo corporativo?

Nossa, são tantas! Mas vou listar aqui aquelas que vão levá-la até uma liderança de sucesso, que são, sem dúvidas: disciplina, resiliência e ousadia, para passar pela adversidade e conseguir enxergar além, trabalhar fora da caixinha mesmo, sabe?!

Visão de futuro também é fundamental. E, se você tem as características anteriores, desenvolver essa é muito mais fácil. Além disso, ter habilidade de fazer a leitura de cenários: de mercado, econômico e, especialmente, cenários culturais e sociais da própria empresa, para que você possa extrair a essência e a força que tem em prol do seu negócio.

Um bom líder é aquele que conhece sua equipe e, desse modo, consegue destacar o melhor de todos. Acho, inclusive, que até um passo antes, na verdade: é preciso saber montar um time forte, um time que leva você para onde quer. Além de ter a humildade para aceitar que não sabemos tudo e, assim, buscar para o time pessoas que sejam especialistas no que é sua deficiência.

5. Conta pra gente: quais são suas principais responsabilidades e desafios nessa posição

Sem dúvida, o principal desafio é pensar no futuro, desafiar o futuro! Hoje faço isso através do planejamento estratégico, uma ferramenta que implantei há alguns anos na Apsen e já nos ajudou a dobrar o faturamento e ultrapassar a marca de R$ 1bi. E é impossível pensar no futuro e não falar sobre inovação. Tem sido um dos temas que mais estudo e mergulho fundo, mesmo, para entender qual vai ser o futuro da saúde no Brasil e as oportunidades para que a Apsen chegue na frente nesse cenário.

Outro ponto muito importante dessa jornada, foi implantar na empresa uma política estruturada e clara de governança, riscos e compliance, que é fundamental para a sustentabilidade do negócio. Agora, estamos atuando para difundi-la, cada vez, mais dentro da nossa cultura.

Mas, óbvio, também é preciso estar presente na gestão diária, ficar atenta, cuidar do caixa e de todas as questões necessárias para manter uma boa saúde financeira. Como vice-presidente executiva, o branding também é minha responsabilidade, então, falo muito com meus colaboradores sobre como cuidar da nossa marca. Particularmente, eu represento essa marca de uma maneira ainda mais forte pois, além de VP, sou a terceira geração da família fundadora, sou a “cara” da Apsen e, mesmo quando estou nos lugares como “Renata CPF”, tenho plena consciência de que o que eu falo e faço impacta a empresa.

6. Como você lida com situações de pressão e decisões difíceis no ambiente de trabalho?

Bom, lido muito bem com pressão, então, consigo ficar confortável, mesmo diante de cenários que seriam desesperadores para algumas pessoas. Sobre decisões difíceis, o primeiro passo que dou é escutar pessoas, acionar diferentes áreas e entender todos os aspectos, principalmente quando é algo no qual eu não tenho uma vivência direta — dentro e fora da empresa. Portanto, estou em muitos grupos de executivos, por meio dos quais consigo ter uma troca real, e consigo, então, reunir diferentes perspectivas para criar a minha.

Desde muito jovem, eu tenho um “lema” que me ajuda a tomar decisões difíceis: sempre paro e reflito: “Qual decisão vai causar bem para um maior número de pessoas?”, e sigo esse caminho. Com essa postura, ficou bem mais fácil e mais leve lidar com a parte difícil que o trabalho também exige.

7. Você falou que chama a equipe da Apsen de “Nação Azul”. Quais são as principais estratégias que você utiliza para motivar e engajar tanta gente?

Eu cuido deles! Ofereço um ambiente seguro, aberto ao diálogo, inovador, com uma estrutura adequada, para não só desenvolverem suas atividades, mas também aprenderem novas competências e habilidades. Tudo isso aliado a um objetivo plano de carreira, uma boa política de cargos e salários, além de uma cultura corporativa forte. No meu segundo livro, falo que o sucesso é resultado de times apaixonados. E, ao longo dos meus mais de 20 anos de carreira, descobri que esses são os pontos mais importantes para um time que se automotive. Brinco que times engajados vestem a camisa, mas times apaixonados mergulham fundo no negócio.

8. Como você equilibra suas atividades como empresária, escritora, palestrante, mentora e influenciadora digital com suas responsabilidades na empresa?

Eu sou uma pessoa MUITO disciplinada, sempre fui. Esta é uma característica forte que trago da minha época de atleta. Então, levo a sério o planejamento e a organização da minha rotina. Para garantir que não vou ficar só focada em uma das minhas muitas facetas, costumo colocar tudo na agenda, o que me ajuda a visualizar o todo e me organizar. Lá estão meus compromissos com a Apsen, o tempo de que preciso para me preparar para uma palestra, o tempo de dedicação para escrita… e por aí vai. Ah, e eu também tenho meus compromissos inegociáveis e recomendo que todos tenham. No meu caso, um deles é o treino que, para mim, é fundamental para manter minha saúde física e mental.

Outros dois aspectos que uma pessoa que ocupa um cargo de gestão, e quer trabalhar em alta performance, precisa ter em mente é que:

1) Não se faz nada sozinho! Eu tenho uma equipe incrível por trás de tudo que eu faço. São pessoas super especialistas e capacitadas que me ajudam a dar conta de tudo e a alcançar os melhores resultados;

2) É preciso falar “não”. Essa lição é dura, porém necessária. Se você tentar abraçar o mundo, vai ser engolido por ele. Então, eleja prioridades e fale “não” sempre que necessário.

9. Diante de tantas facetas, quais são os seus planos e objetivos para o futuro em sua carreira?

Eu sou uma sonhadora! Penso muito sobre o futuro que almejo e como chegar lá. Quero continuar expandindo o trabalho que, hoje, já faço na Apsen. Quero elevar a empresa a um novo patamar, para que, assim, possamos tratar mais pacientes, trazer novas soluções médicas, cuidar de pessoas, da sociedade, empregar mais e mais pessoas na nossa “Nação Azul”, que é como nos chamamos.

Mas há também outras “Renatas” dentro de mim, pois eu me considero uma mulher multifacetada, inquieta e tenho muitos projetos pessoais. Sou palestrante, por exemplo, e já tive a oportunidade de rodar quase todo o país para falar sobre diversos temas, e agora,  tenho sonhado muito em levar os assuntos que abordo também para o exterior.

Como escritora, tenho uma meta de vida, que é escrever um livro por ano, sempre com temas que ajudem as pessoas em diversos aspectos da vida. Meu primeiro livro versou sobre minha trajetória pessoal e autoconhecimento; O segundo, já trouxe mais uma perspectiva da Renata empresária, abordando a cultura corporativa. E o terceiro está no forninho! Vou contar aqui em primeira mão: ele vai tratar de saúde mental, um tema que, nos últimos anos, ganhou muita importância em minha vida.

E, claro, não posso deixar de mencionar meu podcast, o “Pode, Rê?”. A primeira temporada acabou há poucos dias e foi incrível! Além de poder entrevistar pessoas que eu admiro muito, como Conrado Adolpho, Lucas Lucco e Ivan Moré, também pude explorar meu lado artístico, mais criativo… Já estou ansiosa pela segunda temporada: tem muitas ideias novas e convidados poderosos vindo por aí!

10. Renata, para encerrarmos esse papo incrível, quais conselhos você daria a uma estagiária que deseja crescer e se tornar uma líder no mundo corporativo, assim como você?

Seja faminta… Faminta por aprender tudo com todos o tempo inteiro. Seja curiosa e aproveite as oportunidades. Forme um networking poderoso, tenha uma cabeça forte, saiba aonde quer chegar, faça sempre o planejamento estratégico da sua vida e saiba quais são os passos para chegar lá. Mas, acima de tudo, saiba que está tudo bem se você mudar esses planos a qualquer momento, porque estamos sempre em evolução e mudando eternamente. Esta é a magia!

Capa: Revista Danz

Foto: Jeff Porto

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