Arte de Zelia Ducan Entre Notas e Histórias

Uma Conversa Íntima Sobre Voz, Vinis e Novos Desafios

Foto: Danilo Projeto Republica UFMG

Belo Horizonte foi agraciada com um acontecimento singular este ano: a presença marcante de  Zelia Ducan, a renomada cantora e compositora que agora desbrava caminhos como contadora de histórias em seu novo livro “Benditas Coisas Que Eu Não Sei”. Mesmo passados alguns meses desde o evento, a relevância dos relatos profundos de Ducan permanece inegável. Nesse encontro repleto de emoções, onde personalidades como o historiador Igor Cardoso e Heloísa Starling, da UFMG, estiveram presentes, Zelia Ducan compartilhou fragmentos significativos de sua jornada.

A Voz e o Começo de tudo

Para Zelia, a voz é mais que um instrumento musical; é uma identidade que ecoa sua vida. Recorda-se da infância, quando sua voz grave, confundida com a dos irmãos ao telefone, tornou-se seu marco pessoal. “O timbre que você tem é característica fisiológica. A voz é dedo duro, te delata”, brinca ela. A descoberta de seu dom vocal veio aos 13 anos, ao se perceber afinada durante aulas de violão. A música então se tornou sua companheira inseparável. Zelia compartilha um momento crucial em sua trajetória: “Eu era jogadora de basquete da seleção de Brasília… Comecei a levar o violão para viagem. Um dia pensei que estava sozinha e comecei a cantar, assustei quando alguém perguntou quem era (risos). Fiquei quietinha e minha amiga me achou. Ela disse que minha voz era linda. Um dia, troquei um jogo por um festival de música. Foi nesse momento que a música se tornou para mim mais preciosa do que qualquer outra coisa.”

Rita Lee e Eu

A conexão de Zélia Ducan com Rita Lee foi crucial em sua jornada musical. O emblemático álbum “O Fruto Proibido” foi uma espécie de portal para um universo totalmente novo na vida de Ducan. Sua relação com Os Mutantes também deixou uma marca indelével, culminando em uma colaboração musical singular. Apesar do afastamento ao longo dos anos, o amor e a admiração entre elas perduraram. Um capítulo notável dessa relação foi em 2006 e 2007, quando Zélia Ducan integrou a nova formação de Os Mutantes, assumindo os vocais outrora conduzidos por Rita Lee, durante uma turnê de reunião do grupo pelo Brasil e exterior. Ducan, ao receber o convite, confessou ter sentido receio e ligou para Rita, sua parceira na composição de “Pagu”, buscando sua bênção. “Quando fui convidada, liguei para ela. Sua resposta foi: ‘Vai lá se divertir com os manos’. Depois disso, desapareceu”, relatou Ducan. Não houve um conflito direto, mas o contato entre as duas cessou. “Ela simplesmente sumiu. Eu me considerava uma grande amiga da Rita; nunca faria algo que desagradasse a ela. Eu a amava muito.”

O Retorno dos Vinis

Zelia é apaixonada por vinis. Para ela, o vinil é uma obra de arte em sua forma e som expandido, o que a levou a mergulhar novamente nesse mundo. “Acredito que o retorno do vinil é um carinho”, compartilha.

O Encontro com Heloísa – Amor à Primeira Vista

O encantamento por Heloísa Starling foi instantâneo para Zelia. Foi em uma cerimônia no Supremo Tribunal Federal que ouviu Heloísa falar sobre as 7 mulheres invisibilizadas na história das lutas de Independência do Brasil. Esse encontro desencadeou um projeto musical único. A obra resgata a história dessas mulheres, como Maria Quitéria de Jesus e Ana Lins, trazendo-as à luz com suas músicas e letras carregadas de significado. Zelia, em parceria com Ana Costa e Bia Paes Leme, compôs letras que ecoam as trajetórias dessas figuras históricas. O resultado é um tributo sonoro à coragem e à força dessas mulheres esquecidas, um resgate da história que pulsa nas melodias de Ducan.

Tudo a Todo Momento Sem Nenhum Pagamento

No atual mercado musical, Zelia reflete sobre a valorização do trabalho artístico. Compor uma música demanda tempo e dedicação, questionando: “Quanto vale uma ideia?” – um questionamento pertinente em tempos em que a arte parece ser demandada sem o devido reconhecimento. Zelia Ducan não só encanta com sua voz, mas também com sua habilidade de contar histórias através da música e das páginas de seu novo livro. Uma artista que transcende fronteiras, compartilhando paixão, arte e a força da voz que ecoa em cada linha de suas melodias.

Texto por Rafael Souza Pessôa

 

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